segunda-feira, fevereiro 27, 2012

Uma jornalista, uma heroína

do Blog do André Forastieri

Marie Colvin era nova-iorquina, formada bióloga marinha, ex-repórter policial, duas vezes divorciada, jornalista há três décadas e chegada numa vodca.

Morreu ontem, aos 56 anos, bombardeada pelo governo da Síria, quando se arriscava novamente para dar testemunho de mais uma guerra de um governo contra seu povo.

Marie era a única correspondente internacional que se manteve em Homs, sitiada pela ditadura de Assad há 19 dias.

A casa onde estava, com o fotógrafo francês Remi Ochlik, foi bombardeada. Eles tentaram escapar. Foram abatidos por uma bazuca.

Era, para usar um chavão pouco jornalístico, uma lenda viva, a mais famosa correspondente de guerra de nossos tempos. Outros escreveram melhor.

Mas Marie era personagem sem igual, língua afiada, valente que ela só. Via e refletia a guerra do ponto de vista dos civis, dos inocentes, e não do hardware, dos políticos, do pseudo-heroísmo militar.

Só se enfiava em roubada - Chechênia, Líbia, Zimbábue, Kosovo, Iraque, Egito e o diabo. Custou-lhe uma visão no Sri Lanka em 2001 - e quer medalha mais perfeita para uma correspondente de guerra que um tapa-olho?

Ganhou todos os prêmios, mas serviu muito além do dever de um correspondente de guerra.

Arriscou-se para salvar inocentes - pelo menos uma vez, com heroísmo, quando ficou ao lado de uma força da ONU desarmada, e mais 1500 mulheres e crianças, cercados de soldados indonésios por todos os lados.

Vinte e dois jornalistas foram embora. Ela ficou e continuou mandando reportagens para o Sunday Times.

A opinião pública internacional gritou. Depois de quatro dias, foram todos evacuados. Sua morte enterra qualquer possibilidade de justificativa de manutenção da ditadura de Assad.

Como sua vida, não foi em vão.

quinta-feira, fevereiro 23, 2012

USP é universidade que mais forma doutores no mundo

Por Elton Alisson (Agência Fapesp)

Agência FAPESP – A Universidade de São Paulo (USP) é a universidade que mais forma doutores mundialmente. A constatação é do Ranking Acadêmico de Universidades do Mundo (ARWU, na sigla em inglês) por indicadores, elaborado pelo Centro de Universidades de Classe Mundial (CWCU) e pelo Instituto de Educação Superior da Universidade Jiao Tong, em Xangai, na China, que aponta a universidade paulista como a primeira colocada em número de doutorados defendidos entre 682 instituições globais.

O ranking também indica a USP como a terceira colocada em verba anual para pesquisa, entre 637 universidades, além de a quinta em número de artigos científicos publicados, entre 1.181 instituições em todo o mundo, e a 21ª em porcentagem de professores com doutorado em um universo de 286 universidades.

quinta-feira, fevereiro 09, 2012

A imprensa também é uma corregedoria

Por Alberto Dines em Observatório da Imprensa

A sociedade respirou aliviada, a imprensa exultou: a decisão foi suada, sofrida, apertada (6 a 5), mas o colegiado do Supremo Tribunal Federal manteve o poder do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) para investigar e punir magistrados sem depender das corregedorias dos tribunais locais.

O Estado de Direito recuperou todas as suas prerrogativas, sobretudo aquelas que dizem respeito à isonomia e à transparência. Todos os cidadãos voltam a gozar de idêntica proteção e obrigações. Em matéria de privilégios institucionais apenas os legisladores mantêm o direito de ser julgados pelos pares, cláusula fundamental da estrutura republicana.

Foi uma vitória da corregedora nacional de Justiça, a ministra Eliana Calmon, que enfrentou com galhardia e serenidade o corporativismo enfurecido das associações de magistrados apoiadas ostensivamente por alguns ministros da Suprema Corte.

Bom começo

Foi também uma vitória da mídia, em especial da impressa, sobretudo dos jornais que se empenharam com rara determinação. Fica definitivamente ultrapassado o capítulo da emasculação do nosso jornalismo pela prepotência togada. A bandeira da transparência foi finalmente hasteada pelos principais veículos do país e, com isso, tornou-se público o seu compromisso com o combate à impunidade.

O Conselho Nacional de Justiça é um contrapoder. Tal como a imprensa, é parte essencial do sistema de freios e contrapesos (checks & balances) que garante o funcionamento da democracia.

A complexidade da cobertura do Judiciário exige conhecimento especializado; mais do que isso, exige persistência, teimosia. A própria decisão do STF ainda pode ser reformada caso outra ação ou outra liminar tente contorná-la. A criatividade nessa matéria é ilimitada. Sobretudo numa estrutura cartorial como a nossa.

Por outro lado, o cidadão brasileiro começa aos poucos a se familiarizar com alguns aspectos do cipoal jurídico-forense. Quer mais, quer entender o que está por trás do dialeto bacharelesco que a mídia despeja em cima dele.

O ano começou bem em matéria de visibilidade, translucidez, participação, cidadania. Poderá terminar ainda melhor se a imprensa capacitar-se da sua função corregedora, saneadora e assumir-se como instituição autônoma, permanente. O smartphone, para isso, é insuficiente.