A cultura do “fechamento” está com os dias contados no jornalismo. A rotina já acabou porque as novas tecnologias já impuseram o ciclo 24 horas sete dias da semana na produção de notícias. Mas um hábito entranhado há décadas morre mais lentamente. Esta é a razão para problemas como o ocorrido esta semana nos Estados Unidos, a propósito de uma decisão judicial sobre um tema complexo.
O veredito da Suprema Corte provocou interpretações divergentes entre jornais, redes de TV, sites de notícias e noticiários radiofônicos. Mas a polêmica que interessa é a que se estabeleceu entre os jornalistas sobre qual a forma correta de lidar com uma situação como esta. Pela primeira vez em muitos anos, em vez de recriminações mútuas os profissionais trataram de achar a solução.
O caso da decisão judicial americana mostra como a pressa em ser o primeiro entra em conflito com a necessidade de informar corretamente. A conclusão geral foi de que a pressa deve ser sacrificada, o que significa uma virtual sentença de morte para a cultura do “furo” jornalístico. Mas a preocupação em ser o primeiro não é a única vítima nessa mudança de hábitos, rotinas e valores nas redações e fora delas.
A necessidade de imprimir notícias levou os jornais a parar a produção de informações num momento determinado, que ficou conhecido como hora do fechamento, ou deadline. É a hora fatal para o profissional, pois ela determina se ele foi o não bem sucedido na sua missão de obter tudo aquilo que o leitor precisa saber.
As novas tecnologias de comunicação e informação (TICs) acabaram também com essa tradição jornalística ao permitir que as notícias possam ser publicadas na web sem hora de fechamento. Isso não significou apenas o fim de uma rotina, mas também uma mudança no conceito de notícia. Ela deixou de ser algo com prazo de validade para se transformar num processo, já que a internet permite atualizações e reformulações a qualquer momento.
Isso muda bastante a rotina das redações, mas também a dos leitores. Para os jornalistas, a mudança afeta a forma como tratam a informação, especialmente as mais complexas e especializadas. Em vez da obsessão com o furo e com o fechamento, os profissionais passam a se preocupar com o processo de produção da informação.
Em vez de entregar um pacote informativo fechado em prazos determinados, os jornalistas passam a produzir uma sucessão de detalhes, novos enfoques, percepções e contextos de forma cumulativa, num processo que pode implicar em correções e recuos. O erro, quando reconhecido e corrigido, deixa de ser um pecado mortal para ser um acidente normal de percurso investigativo.
No lado do leitor, ele terá que, gradualmente, passar a encarar a notícia como um processo de descoberta da realidade e formação de conhecimento individual. Isso fará com que ele tenha que substituir a postura passiva atual por outra proativa, já que ele não receberá mais um produto acabado, mas algo em permanente construção.
Essas mudanças estão sendo estimuladas pela avalancha informativa deflagrada pela internet e pela web, responsáveis diretas pela maior percepção da complexidade das informações transmitidas aos leitores. A complexidade sempre existiu, mas nós não tínhamos condições de percebê-la porque os dados disponíveis era poucos. Como hoje o número de versões e percepções cresceu exponencialmente, os leitores passaram a ter um trabalho extra de selecionar e interpretar noticias, em vez de digeri-las sem reflexão.
Por Carlos Castilho em 30/06/2012 no site Observatório da Imprensa
Um vídeo pubicado no YouTube no último dia 10 de maio no qual a repórter Mirella Cunha da rede Bandeirantes da Bahia debocha de um jovem acusado de estupro vem causando reações de repúdio entre internautas.
Na entrevista, que foi ao ar no programa Brasil Urgente, a repórter questiona o jovem em uma delegacia. Ele nega ter cometido o estupro. Chega a chorar e se diz disposto a fazer um exame de próstata para provar sua inocência. "Pode fazer exame de strópa nela e ni mim (sic)", diz na gravação. A repórter pede oito vezes pra ele repetir o nome do exame. Em todas o acusado se atrapalha para falar a palavra próstata. "Você gosta? Já fez?", pergunta ela rindo. "Não fiz não, tá doido", responde ele.
O vídeo, que tinha quase 400 mil visualizações até o final da tarde desta terça-feira, mobilizou grupos na internet repudiando o comportamento da repórter. Um perfil criado no Facebook chamado "Fora Mirella Cunha" já apresentava quase mil adesões.
A rede Bandeirantes, por meio de sua assessoria de imprensa, divulgou uma nota a respeito do caso. "A Band vai tomar todas as medidas disciplinares necessárias. A postura da repórter fere o código de ética do jornalismo da emissora".
De acordo com a presidente do Sindicato dos Jornalistas da Bahia e vice-presidente da região Nordeste da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), a postura da repórter é uma constante em programas como o Brasil Urgente.
"A gente briga há muito tempo contra esses programas sensacionalistas. Já foi feito um termo de conduta no Ministério Público contra a exposição das pessoas que são presas, principalmente as pessoas negras e pobres", afirmou Marjorie Moura. A dirigente destacou que as entidades devem emitir uma nota de repúdio à profissional.
Até as 19h10min, a Secretaria da Segurança Pública do Estado da Bahia não soube informar a delegacia onde se deu a entrevista. Sobre os procedimentos que regulamentam a atividade jornalística nesses locais, cabe aos delegados a decisão de conceder autorização para que os acusados deixem suas celas para serem entrevistados pela imprensa.