sábado, novembro 05, 2005

Lurdinha - Horror e ódio estampados na cara da morte

Dia desses relembrei de um caso que me marcou muito. Lurdinha surgiu em minha vida de repente. Estava no carro do jornal e fui acionado via rádio pela redação para levar o fotógrafo para o bairro Novo Horizonte em Sorocaba para fazer a foto da Lurdinha. Ela fora encontrada morta em um imenso terreno baldio naquele bairro. Vítima de um estuprador que abusou-a até a morte.

Chegamos ao local e segui com a fotógrafa Nilze de Campos até próximo a um monte de jornal amontoado cobrindo um corpo inerte. Pouco se via pelas frestas. Era um sábado ensolarado e o Sol esquentava todos curiosos ali, enxotados aos poucos pelos policiais militares.

Tudo começou a mudar quando a irmã de Lurdinha, uma senhora de trinta e poucos anos, com aparência de muitos mais, com rosto e mãos marcadas pelo sofrimento da vida, chegou por ali.
Viera acompanhada de outro policial militar para reconhecer o corpo. Ali ficou, ao meu lado. O guarda puxou um pouco o jornal e ela pôde ver o tênis branco: "é o tênis dela sim", afirmou, ainda firme.
Confirmado o parentesco, o policial ouviu dela a informação de que Lurdinha sofria de insanidade mental. Lurdinha, ali, era um monte de jornal, esperando o reconhecimento e a última visita de sua irmã.

De repente, um vento forte bateu levando a alma de Lurdinha e mostrando-nos o ódio e o horror estampado na cara da morte. Deitada, de cabeça inclinada para trás, Lurdinha estava com a boca aberta ainda gritando, cheia de moscas. Seus dedos cravados na terra, ainda tentavam puxar seu frágil corpo insano para longe do maníaco. Visão única, forte, marcante, eterna. A irmã, pobre irmã, não conseguiu fazer outra coisa senão dar um longo, gutural e intenso urro:

"Luuuuuuuurdiiiinhaaaaaaaaaaa".

Nenhum comentário:

Postar um comentário