quarta-feira, abril 07, 2010

Pedofilia e abuso sexual

Por Mariana Nassif
(Retirado do Blog do Luis Nassif) - www.luisnassif.com.br

As grandes mídias têm comentado aos quatro ventos casos e mais casos de pedofilia envolvendo a Igreja Católica, especialmente. Padres, que por dever e determinação "nata" seriam pessoas especiais, espécie de ponte entre o céu e a terra, pairam, agora, no inferno.

As multidões julgam, condenam, criticam a construção de um celibato que impõe severas penas às sociedades que não seguirem os mandamentos divinos e que acabam, elas mesmas, por infringir a conduta primordial humana: o livre arbítrio. Sim, porque se trata de livre arbítrio quando duas pessoas querem trocar carícias, tornar-se íntimo um do outro, quem sabe até realizando fantasias impublicáveis. Mas é a escolha de duas pessoas. E não a sobreposição do desejo – doentio – de uma imposta sobre a fragilidade infantil de outra.

Uma das características mais terríveis da pedofilia, ou do abuso contra o menor é que, estatisticamente, de 8 entre 10 casos o abusador conhece a vítima. E quando a vítima é uma criança, é quase óbvio que seus pais e responsáveis também conheçam este agressor. Por que, então, o tema ainda é tabu nas famílias?

Crianças são abertas, curiosas, aprendem com facilidade o que é certo e errado, especialmente quando colocadas na temática de maneira afetuosa e eficaz. Múltiplas pesquisas constam que a culpa é um dos principais sentimentos que permeiam tanto pais quanto as crianças agredidas – os pais por não perceberem que algo estava mudando em sua cria, a criança por sentir prazer em algo que se tem como o maior dos segredos – se não pode contar pros pais, boa coisa não é. Viu só como aprendem rápido?

Os pais não deveriam sentir-se culpados – meninos e meninas de 5, 6, 7, X anos mudam na velocidade de um piscar de olhos, é assim mesmo. Tudo pode estar acontecendo. Se analisarmos patologicamente cada função e reação infantil e/ou adulta, seremos todos vítimas de doenças e rótulos. Outro tipo de agressão, mas não vem ao caso. À crianças resta a culpa de sentir prazer no que é errado – tocar seu corpo naturalmente gera sensações, e em época de descobertas mil, como pode aquela não fazer parte do mundo novo que surge quando crescemos? A saída, acredito, a única saída, é o diálogo.

Por que trancar no baú um segredo que tão somente acaba por proteger o agressor, ao invés de orientar com firmeza nossas crianças sobre o tema? Por que ser conivente com um comportamento que machuca tanto que provoca a ira somente ao pensar "…se fosse com uma de minhas crianças…"? Existem delicadas nuances que cabem somente a quem, infelizmente, passou e (sobre)viveu a este tipo de situação. Mas ainda há a vergonha de escancarar o escândalo, de detonar a dinamite da verdade familiar e… bem, como mãe de uma linda mocinha de 10 anos, irmã de duas com quase a mesma idade, não me cabe encontrar justificativa que seja para não ter uma conversa aberta e franca e explicar que sim, o abuso existe, é um perigo real, assustador e que sim, grite bem alto se qualquer coisa parecida com isso ou aquilo acontecer com você – seja em casa, com conhecidos ou desconhecidos, grite bem alto que é pra todo mundo ouvir – ou então este grito pode ficar entalado quase que pra todo o sempre em você e somente em você, sem que ninguém, nem mesmo eu, tivesse a oportunidade de proteger-te.

Um comentário:

  1. O grande problema aquí é o poder e, lamento dizer, o abandono que a grande maioria dessas crianças abusadas sentem por parte da família delas. Vao gritar para quem? Deus (que cabam de aprender que ele NAO está com os mais fracos)? Os pais (que eles aprenderam que NAO querem tê-los por perto)? ... e quem mais tem numa vida de uma criança? Os amigos (que ou têm o mesmo azar que eles e entao eles pelo menos podem chorar juntos, mais calados; ou podem estar do mesmo lado dos mal-tratadores e causar mais dano ainda)?
    A questao aqui nao é "gritar bem alto", o problema está no fato de que a grande maioria ao redor desta criança nao quero escutar. Uma criança que é escutada grita - se for necessário, geralmente nao é. Mas a criança que nao é escutada ... quê?
    Nao existe instituiçao que possa substituir uma família que funcione - mesmo que essa família nao seja exemplar e tenha muitos problemas (todas têm), mas enquanto nessa família esteja assumido que a criança é o maior bem que ela tem, a criança vai bem (isso também nao é uma lei!) ... pelo menos sabe que se gritar vai ser ouvida.
    Na minha visao curta temos um problema aqui, e este é que há muitas famílias que decidem nao abortar a criança (por motivos supostamente religiosos), mas nao querem tê-la, e entao nao dao a mínima pela criança e levam ela para um internado (supostamente religioso) onde ela vai ter uma educaçao (supostamente religiosa) que na própria família nao querem (nem sabem) dar. Agora os gritos vao ser muitos e altos ... e vao ser gritos que vamos ouvir, mas isso serao gritos altos devidos a um poder mediático que as crianças mal-tratadas nao têm.

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