quarta-feira, julho 14, 2010

O apedrejamento como "propaganda"

Por Leticia Nunes (edição), com Larriza Thurler em 13/7/2010
(retirado do Observatório da Imprensa)

Sakineh Mohammadi Ashtiani é iraniana, tem 43 anos e dois filhos. Em 2006, ela foi condenada por "manter relações ilícitas com dois homens" e recebeu 99 chibatadas. Presa desde então, Sakineh foi recentemente levada a um tribunal onde era julgado um homem suspeito de matar seu marido. Ela também acabou julgada e novamente foi condenada por adultério. Desta vez, recebeu sentença de morte por apedrejamento. Sim, isso existe no Irã: a pessoa é coberta por um pano branco e tem o corpo amarrado e enterrado até a altura dos ombros. Ela é então executada com pancadas de pedras na cabeça.

O caso de Sakineh ganhou atenção internacional pela internet com uma campanhainiciada por seus filhos. Um abaixo-assinado na rede pedindo pela sua soltura e pelo fim da prática de apedrejamento no Irã já contava com mais de 68 mil assinaturas na tarde de segunda-feira [12/7]. No fim da semana passada, o jornal britânico Guardiannoticiou que a embaixada iraniana em Londres havia divulgado declaração dizendo que Sakineh não seria mais apedrejada. Seu filho Sajjad, de 22 anos, afirmou ao jornal, entretanto, que a condenação da mãe não foi anulada e ela deve ser executada por enforcamento.

Estas informações não foram divulgadas no Irã. A imprensa local foi proibida de cobrir o caso. "Não é a primeira vez que somos proibidos de reportar sobre um caso de apedrejamento, mas, porque o caso de Sakineh é sensível, a censura é ainda mais rigorosa", afirmou ao Guardian um jornalista de Teerã que, por razões óbvias, não pode ser identificado.

Propaganda

Diante da campanha internacional para salvar Sakineh – que já conta com a participação de políticos e celebridades de diversos países, incluindo o presidente Fernando Henrique Cardoso e os cantores Chico Buarque e Caetano Veloso –, o judiciário iraniano afirmou que "a propaganda da mídia ocidental" não vai conseguir impedir a execução. O chefe do judiciário do Azerbaijão iraniano, Malek Ajdar Sharifi, chegou a dizer que o crime cometido por Sakineh é tão grave que seria melhor se ela tivesse "apenas" cortado a cabeça do marido.

"A comoção criada pela mídia internacional sobre este caso não irá afetar a posição de nossos juízes", completou Mohammad Javad Larijani, chefe do Alto Conselho iraniano de Direitos Humanos. "Eu devo ressaltar que a punição por apedrejamento existe em nossa constituição mas é usada em ocasiões muito raras". Com informações do Globe and Mail [12/7/10], do Guardian [9/7/10] e do site Free Sakineh.

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