Discurso pronunciado pelo autor na terça-feira (24/5), em São Paulo, ao receber o Prêmio Personalidade da Comunicação durante a edição de 2011 do Congresso MegaBrasil de Comunicação Corporativa
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Prof. Dr. José Marques de Melo Foto: José Gerson Luiz Martins |
Quem tem medo de crise?
O espectro da crise ronda o universo jornalístico desde que ingressei na profissão, há 52 anos. Naquele tempo, vivenciávamos a crise política da guerra fria, com a ameaça soviética de lançar mísseis sobre o território norte-americano, a partir de bases nucleares instaladas em Cuba, numa conjuntura marcada pela revolução tecnológica da imprensa. Aposentando os arcaicos processos de composição a chumbo pelas modernas chapas de offset, a imprensa era estimulada a enfrentar a concorrência da televisão, difundindo imagens e cores nas páginas dos jornais diários.
Neste começo de século, presenciamos a crise da globalização geopolítica, em função dos trágicos acontecimentos de 2001. Comandos muçulmanos suicidas convertem as Torres Gêmeas em alvos bélicos, usando como armas letais jatos sequestrados, lotados de passageiros, configurando um espetáculo midiático com audiência planetária. O mais recente episódio desse conflito imprevisível foi a invasão ianque ao território do Paquistão para eliminar Osama Bin Laden e seu quartel-general.
Emoldurando tais fatos está a crise que atinge o sistema financeiro internacional, abalando as estruturas econômicas e sociais do capitalismo, vitimando cruelmente os imigrantes estrangeiros, refugiados nos EUA e na Europa.
O Brasil evidentemente não está imune à contaminação dessa crise que ameaça restaurar a espiral inflacionária. Tampouco está ileso à crise do mundo árabe, onde as rebeliões populares indicam a saturação dos regimes autoritários, embora sem perspectivas de vitória para a democracia.
Não obstante, creio que vivenciamos uma conjuntura singular, em consequência do aprendizado republicano instaurado pela Constituição de 1988, compensando o doloroso período da ditadura militar urdida pelos golpistas de 1964. Por isso, vou me limitar à consideração do panorama nacional, tal como o percebo nesta segunda década do século 21. A crise do nosso jornalismo tem conotações múltiplas: crise no mercado, crise na profissão e crise na academia.
Mercado
A crise no mercado é menos uma crise financeira, porque as empresas se beneficiaram com a estabilidade econômica da era FHC-Lula, ensejando o boom publicitário da última década. É muito mais uma crise estrutural, resultante das inovações tecnológicas que sepultaram a hegemonia da cultura gutenberguiana. Produto da modernização organizacional do negócio midiático, a implantação de padrões de qualidade editorial acarretou o enxugamento das redações e abriu o flanco para a institucionalização da influência das fontes na agenda noticiosa.
Trata-se de uma crise sem desfecho previsível, tendo em vista a situação privilegiada que desfruta hoje o nosso país como sétima economia do mundo, destoando do neopopulismo latino-americano pela sua estabilidade constitucional.
O espectro da crise ronda o universo jornalístico desde que ingressei na profissão, há 52 anos. Naquele tempo, vivenciávamos a crise política da guerra fria, com a ameaça soviética de lançar mísseis sobre o território norte-americano, a partir de bases nucleares instaladas em Cuba, numa conjuntura marcada pela revolução tecnológica da imprensa. Aposentando os arcaicos processos de composição a chumbo pelas modernas chapas de offset, a imprensa era estimulada a enfrentar a concorrência da televisão, difundindo imagens e cores nas páginas dos jornais diários.
Neste começo de século, presenciamos a crise da globalização geopolítica, em função dos trágicos acontecimentos de 2001. Comandos muçulmanos suicidas convertem as Torres Gêmeas em alvos bélicos, usando como armas letais jatos sequestrados, lotados de passageiros, configurando um espetáculo midiático com audiência planetária. O mais recente episódio desse conflito imprevisível foi a invasão ianque ao território do Paquistão para eliminar Osama Bin Laden e seu quartel-general.
Emoldurando tais fatos está a crise que atinge o sistema financeiro internacional, abalando as estruturas econômicas e sociais do capitalismo, vitimando cruelmente os imigrantes estrangeiros, refugiados nos EUA e na Europa.
O Brasil evidentemente não está imune à contaminação dessa crise que ameaça restaurar a espiral inflacionária. Tampouco está ileso à crise do mundo árabe, onde as rebeliões populares indicam a saturação dos regimes autoritários, embora sem perspectivas de vitória para a democracia.
Não obstante, creio que vivenciamos uma conjuntura singular, em consequência do aprendizado republicano instaurado pela Constituição de 1988, compensando o doloroso período da ditadura militar urdida pelos golpistas de 1964. Por isso, vou me limitar à consideração do panorama nacional, tal como o percebo nesta segunda década do século 21. A crise do nosso jornalismo tem conotações múltiplas: crise no mercado, crise na profissão e crise na academia.
Mercado
A crise no mercado é menos uma crise financeira, porque as empresas se beneficiaram com a estabilidade econômica da era FHC-Lula, ensejando o boom publicitário da última década. É muito mais uma crise estrutural, resultante das inovações tecnológicas que sepultaram a hegemonia da cultura gutenberguiana. Produto da modernização organizacional do negócio midiático, a implantação de padrões de qualidade editorial acarretou o enxugamento das redações e abriu o flanco para a institucionalização da influência das fontes na agenda noticiosa.
Trata-se de uma crise sem desfecho previsível, tendo em vista a situação privilegiada que desfruta hoje o nosso país como sétima economia do mundo, destoando do neopopulismo latino-americano pela sua estabilidade constitucional.