sexta-feira, janeiro 13, 2017

Partido Sorocabano dos Trilhos, nova tentativa





Dia desses, li que o prefeito de Sorocaba, José Crespo, pensa em transformar a área da Estação Ferroviária em um centro cultural. Acho importante, mas o local poderia ser usado para outro fim, aproveitando as estruturas já implantadas no local.

Não sou contra um centro cultural, pelo contrário. Mas esse espaço à cultura poderia ser implantado em outro local e não na Estação, que guarda uma estrutura tão singular.
Reproduzo esse artigo abaixo - publicado no jornal Cruzeiro do Sul em 2006 - pois acredito que a Estação Ferroviária seria o local ideal para abrigar toda uma estrutura voltada à produção de Pesquisa e Desenvolvimento de produtos e serviços inovadores na área do transporte ferroviário.

Propus em 2006 e continuo acreditando nisso, que Sorocaba tem um local praticamente pronto (com trilhos, áreas de manobra, oficinas e locais para a parte administrativa e educacional) bastando apenas a vontade política de levar essa ideia adiante e abrir mais um leque de oportunidade para toda a região.
Segue o artigo publicado em 15de junho de 2006, no jornal Cruzeiro do Sul.


Partido Sorocabano dos Trilhos

Ferrovias. Investir ou não nelas? O presidente Lula anunciou recentemente que irá incentivar a ferrovia no País para reativar aquele que é um dos mais importantes meios de transporte de carga no mundo todo, menos no Brasil. E Sorocaba não deve perder mais esse bonde da história que corre o risco de passar. Expandida sociofinanceiramente pela criação da Estrada de Ferro Sorocabana, a cidade sediou o desenvolvimento da região pelos trilhos.

Com o incentivo à indústria automotiva, a ferrovia foi à bancarrota chegando ao completo sucateamento, anos atrás, até que as empresas privadas viram a grande chance de alavancar o mercado de transporte de cargas utilizando a ferrovia e optaram por voltar a investir nos trens. Dentro desse contexto, Sorocaba ficou com um grande pátio de manobras e uma das mais belas estações ferroviárias, bem como prédios da manutenção que são históricos e funcionais.

Recentemente, a Associação dos Engenheiros e Arquitetos de Sorocaba (Aeas) apresentou um projeto de reformulação de todo o pátio. Pelo projeto, terminais de ônibus, parques e lago seriam construídos em toda a área, para devolvê-la ao sorocabano. O maior impasse, segundo os arquitetos e engenheiros idealizadores, é o político e o judicial.

A restruturação arquitetônica é vistosa e necessária, mas a utilização da área poderia ser melhor aproveitada. Por que não transformar toda aquela área em um Centro Tecnológico Ferroviário, em que o local seria um grande laboratório? Está tudo lá: os trilhos, os prédios, as oficinas para os testes. Quer aproveitamento da população melhor do que esse? Sorocaba tem sua história amplamente ligada à ferrovia. O trem, embora não seja o nosso cotidiano, está no sangue do sorocabano.

Aproveitando isso, penso que os políticos em suas três instâncias - município, Estado e União - poderiam arquitetar uma política pública de longo prazo para que a cidade se torne mais um pólo tecnológico do Estado e, quiçá, do Brasil. O pólo funcionaria aos moldes do Centro Tecnológico Aeronáutico (CTA), em São José dos Campos, surgido de uma política pública implementada na década de 50, em que o incentivo à ciência foi intenso no Brasil. Na época, foi definido que ali seria o CTA. O Instituto Tecnológico Aeronáutico (ITA) foi construído e, a partir de então, as indústrias ligadas à área aeronáutica foram se aproximando, de forma que hoje estão todas reunidas naquela região.

Em Sorocaba não seria diferente. Por meio de uma política de desenvolvimento de longo prazo, poderiam os agentes envolvidos (políticos, universidades, população) se planejar para direcionar tudo para o desenvolvimento do Centro Técnico Ferroviário, assim como cursos universitários, que trabalhariam no desenvolvimento de motores, vagões, trilhos, tecnologia e desenvolvimento de materiais que barateassem a produção de trens. Seríamos, então, fornecedores de materiais e tecnologia nesta área para atender ao mercado interno e externo. Ou seja, em vez de o Estado ter que comprar trens da Espanha, como os que correm nos trilhos da CPTM, os trens que levariam paulistas e brasileiros para todo canto seriam “made in Sorocaba”.

Com essa proposta clara e defendida a longo prazo pelos nossos representantes políticos, Sorocaba resolveria um problema que tem surgido ao Estado: o de não representar uma solução do ponto de vista científico e tecnológico. Basta observar. Quando nossos governantes vão à União ou ao Estado pedir verbas, o que apresentam de solução aos problemas desses governantes? O leitor pode pensar: “ah, temos indústrias que evitam maior desemprego. Ah, temos hospitais. Pagamos impostos”. As outras grandes regiões também têm e pagam. A questão que interessa à União e ao Estado é: qual problema Sorocaba poderia ajudar a resolver? Basta responder a essa questão para ter acesso ao dinheiro. E Sorocaba, do ponto de vista científico e tecnológico, não está respondendo a essa questão. Esse peso que Sorocaba representa - de só esticar uma mão - ficou muito claro na recente escolha de cidades como pólos tecnológicos pelo Estado. Quais foram as cidades escolhidas? Campinas, São José dos Campos, São Carlos, Ribeirão Preto e São Paulo. O Governo do Estado vai investir maciçamente nessas cidades porque elas apresentam soluções nas suas respectivas áreas, já desenvolvidas. Campinas está voltada para a ciência da computação, a tecnologia da informação e a comunicação. São Carlos deverá privilegiar a área de novos materiais, óptica e instrumentos para a agricultura; São José dos Campos, a área aeroespacial e de defesa; São Paulo, a de nanotecnologia e biotecnologia; e Ribeirão Preto, o desenvolvimento de equipamentos médicos, hospitalares e odontológicos. Logo de cara, o Estado irá destinar R$ 11 milhões para implantar esses 5 parques tecnológicos. Até o final do ano, serão R$ 20 milhões.

Poderíamos nos planejar para um dia oferecer pelo menos essa proposta: a de desenvolver tecnologia ferroviária para transporte de cargas e passageiros, assunto que interessa ao País e ao Governo do Estado, afinal, as estradas não têm mais condições de tráfego de tanto fluxo. O próprio Vale do Ribeira - conhecido como Ramal da Fome - poderia crescer com o escoamento da produção via ferrovia, com a mercadoria chegando a São Paulo com preços mais competitivos que atualmente. Daí a minha pergunta inicial: vale a pena Sorocaba planejar seu crescimento na ferrovia? Enquanto não pensarmos nisso, amargamos mais uma vez a derrota de somente ver o bonde passar.


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