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quarta-feira, setembro 01, 2010

Jornalismo é uma profissão; apresentar anúncios, outra

Publicado por Alberto Dines no Observatório da Imprensa

Primazia indiscutível, oportuna, simbólica: a Folha de S.Paulo foi o primeiro jornalão a questionar abertamente a contratação da celebrada atriz/garota-propaganda Marília Gabriela para apresentar o novo formato do programa jornalístico Roda Viva, na TV Cultura. Na nobilíssima Página Dois de segunda-feira (30/8), o colunista Fernando de Barros e Silva condenou a perigosa superposição de telejornalismo com jingles através da contratação de uma apresentadora de anúncios televisivos no comando de um histórico programa de debates e entrevistas (ver "Cultura de salão", reproduzido nesteOI). O colunista não faz juízos de valor, elegantemente passa ao largo de performances, quer discutir princípios. Bem-vindo, pois, a este Observatório da Imprensa.

Convém reparar, porém, que a Folha cometeu o mesmo pecado duas vezes e tem ajudado com o seu indiscutível poder de fogo a apagar os contornos de uma profissão que ela – e suas parceiras na mídia – deveriam ser as primeiras a consagrar e proteger.

A recente reforma gráfica e editorial da Folha foi promovida na TV em comerciais divinamente interpretados pela atriz Fernanda Torres. E, em seguida, a atriz foi contratada para escrever sobre política na Folha. Como atriz e apresentadora de comerciais é perfeita – ostenta no DNA a grandeza de Fernando Torres e a humanidade de Fernanda Montenegro. Como colunista (na Vejinha Rio) foi uma agradabilíssima surpresa. Se estamos falando de princípios rigorosos, sua contratação como articulista na editoria "Poder" da Folha seguiu um raciocínio dúbio. Tudo bem: é possível admitir que o colaborador de um jornal possa aparecer em mensagens institucionais do veículo onde trabalha. Neste caso, não pode ser remunerado.

Falta cancha

Há alguns anos, quando o jornalista e produtor cultural Nelson Motta, então colunista da mesma Página Dois da Folha, protagonizou uma série de comerciais de TV para uma grande organização bancária, foi explicado que não havia conflito de interesses porque o jornalista não se ocupava de economia e finanças, sempre focado em música popular, sua incontestada especialidade.