Na vida profissional de um jornalista, algumas tarefas são consideradas "nobres". Uma delas é a elaboração da capa do jornal. Isso porque criar a capa é um desafio diário. São inúmeros assuntos, centenas de fotos para tentar compor o melhor "cartão de visita" ao leitor. Falo cartão de visita, porque penso que a capa é o convite visual - com número de informações restritas - ao leitor para que ele abra o jornal e leia as matérias. Além de iconográfico, é também um desafio matemático, pois você tem que colocar o maior número de informação possível de informações importantes naquele espaço disponível no papel jornal.
Neste final de semana, fui convidado pelo editor-chefe do Cruzeiro do Sul, Anclar Patric, a fechar a capa do jornal. Com 12 anos de trabalho no jornal impresso diário, digo que já tinha feito vários trabalhos, mas não tinha fechado a capa do centenário. Aceitei o convite e esse aí ao lado foi o resultado de minha primeira experiência.
sábado, setembro 27, 2014
quarta-feira, outubro 02, 2013
Fome e atitude
Postado por
Marcel
Hoje, leio na capa do jornal: "Uma a cada oito pessoas no mundo sofre com a fome". Na matéria, o detalhe: 25% "continua sendo" na áfrica subsaariana.
(silêncio)
O "continua sendo" está devidamente usado no texto.
Quando eu nasci, há 38 anos, esse era um grande problema.
Lembro que, quando tinha 10 anos - em 1985 -, esse continuava sendo um grande problema. Naquele ano, os 45 maiores músicos dos Estados Unidos gravaram a canção We are the World para combater a fome na África.
Volto a 2013. (quase 30 anos depois)
Ferramentas como a Internet dão a possibilidade das pessoas se agruparem por interesses comuns no mundo todo. Ferramentas que poderiam ser usadas para enfrentar problemas como esse.
No entanto, o que se vê é o uso dessas ferramentas só para a banalidade: piadas, besteiras, sexo, autoajuda e propaganda, muita propaganda e exibicionismo próprio. No meu círculo de amizades, o grupo que mais fez bom proveito da mídia social por um bem foi o de cachorreiros. Goste ou não do tema, eles construíram uma rede de busca, salvamento e recuperação de cachorros. Gente do Brasil inteiro que denuncia, ajuda a localizar e a financiar o atendimento veterinário.
O que você faz para deixar esse mundo melhor do que quando encontrou?
Pense: morre gente e de fome.
A pergunta que fica é: até quando? até quando?
quarta-feira, agosto 21, 2013
Entre Aspas
Postado por
Marcel
Assisto pouca TV, mas quando assisto e tenho sorte de coincidir com o horário, gosto do Entre Aspas, da GloboNews. Não sei se é regra, mas, pelos poucos programas que vi, percebi que sempre levam 2 entrevistados, com posições divergentes.
Hoje, levaram o desembargador Fausto De Sanctis e o professor da USP, Pierpaollo Bottini. Na pauta, a discussão sobre o julgamento do mensalão, se houve "chicana" ou não, se é possível haver embargos infringentes no processo ou não.
Independente da interpretação jurídica de cada convidado - fato rico e democrático -, o que me agrada é o debate de alto nível, debate técnico, sem cair na calhordice e simplismo de acusações políticas, do tipo "você está a favor deste ou daquele partido", dicotomia tão usual em nosso país. O debate técnico é uma coisa que falta, e muito, para o jornalismo brasileiro.
Hoje, levaram o desembargador Fausto De Sanctis e o professor da USP, Pierpaollo Bottini. Na pauta, a discussão sobre o julgamento do mensalão, se houve "chicana" ou não, se é possível haver embargos infringentes no processo ou não.
Independente da interpretação jurídica de cada convidado - fato rico e democrático -, o que me agrada é o debate de alto nível, debate técnico, sem cair na calhordice e simplismo de acusações políticas, do tipo "você está a favor deste ou daquele partido", dicotomia tão usual em nosso país. O debate técnico é uma coisa que falta, e muito, para o jornalismo brasileiro.
sexta-feira, agosto 16, 2013
Jornalismo, viagens e coincidências
Postado por
Marcel
Algumas coisas na vida ainda me assustam pela falta de explicação, uma delas é a coincidência. Fico realmente perplexo como certos eventos acontecem assim, sem qualquer planejamento, sem qualquer explicação, apenas coincidência.
Já presenciei várias situações em que a coincidência resumiu os fatos e foi a explicação mais fácil encontrada, mas uma delas até hoje me deixa perplexo, diante de tamanha complexidade para que ocorresse.
O começo dela se dá em 1998. O militar sorocabano Vécio Iudie Fujihara faleceu no Aconcágua, em sua tentativa de chegar ao cume daquela montanha. Trabalhando no jornal Cruzeiro do Sul como repórter e envolvido com esportes de aventura, fiquei incumbido de fazer o acompanhamento jornalístico do caso.
A certa altura da cobertura, entrei em contato com o escalador Fernando Augusto Vieira. Ele que acompanhava o sorocabano na tentativa de chegar ao ponto mais alto das Américas.
Liguei para a casa do escalador no Rio de Janeiro, me apresentei e o que encontrei do outro lado do telefone foi um rapaz emputecido, vociferando contra jornalistas. Disse que não daria entrevista, que já haviam distorcido suas palavras, que jornalista era isto e aquilo. Eu, do lado de cá, na redação do jornal, em Sorocaba, tinha acabado de arranjar mais um problema: precisava conseguir a matéria, mas, antes, teria de convencer o Fernando a me dar a entrevista.
Bom, resumindo, o fato é que fiz um acordo com o Fernando. Pedi a ele que me escrevesse uma carta, com o seu ponto de vista de todo o ocorrido e que me enviasse por fax. É, naquele tempo, as coisas funcionavam ainda pelo fax na redação. Nada de e-mail. Por telefone, garanti ao Fernando que iria negociar com o meu editor a publicação da íntegra daquela carta e prometi que, caso tentassem mexer no conteúdo, eu mesmo rasgaria o fax e deixaria a matéria pra lá.
O escalador topou. Me deu um voto de confiança. Algumas horas depois, recebi sua imensa carta pelo fax da redação. A matéria foi publicada. Um furo de reportagem na imprensa local e com um conteúdo exclusivo. (a matéria pode ser lida clicando na imagem abaixo) (clique com o botão da direita e mande abrir a imagem em outra guia. Então, abrirá uma lupa e será possível ampliar a página e ler toda reportagem)
Mas depois de contar essa novela, você deve estar perguntando: mas onde está a coincidência? Afinal, este post é sobre coincidência, não é? Pois bem. Eu precisava contar essa história para contar outra história e, então, a coincidência.
Em agosto de 2000, fiz parte da expedição Atahualpa 2000, da ONG italiana Akakor. Fomos à Bolívia para mergulhar no Lago Titicaca em busca de material arqueológico. Ao final da expedição, depois de uns 13 dias mergulhando, voltamos à cidade de La Paz, onde ficamos alguns poucos dias. Para quem não conhece, La Paz tem algumas ladeiras onde o comércio se concentra. E eu estava numa delas, já cansado fisicamente da expedição e querendo voltar para o Brasil.
De repente, ouço algumas pessoas falando português. Depois de tanta comunicação em italiano e espanhol, tive aquela sensação de "é de casa, é do Brasil". Me virei e fui conversar com os três brasileiros. E vocês sabem como é: brasileiro quando encontra brasileiro no exterior, faz festa.
E, então, nas apresentações, se deu mais ou menos o seguinte diálogo:
Eu: Vocês são de onde?
Eles: "Do Rio."
Eu: Ah, legal, eu sou de Sorocaba, interior de São Paulo.
Um deles: "Eu conheço um jornalista de Sorocaba, o Marcelo".
Eu: Marcelo? Eu sou jornalista e não conheço nenhum Marcelo. Quem será?
Ele: "Ele me entrevistou quando aconteceu um problema com um escalador de Sorocaba no Aconcágua."
E eu, assustado: "Você é o Fernando?"
Demos um abraço, relembramos a história da entrevista e fizemos essa foto abaixo pra registrar aquela feliz coincidência. (O Fernando é o de azul, o segundo na foto, da esquerda para direita).
Já presenciei várias situações em que a coincidência resumiu os fatos e foi a explicação mais fácil encontrada, mas uma delas até hoje me deixa perplexo, diante de tamanha complexidade para que ocorresse.
O começo dela se dá em 1998. O militar sorocabano Vécio Iudie Fujihara faleceu no Aconcágua, em sua tentativa de chegar ao cume daquela montanha. Trabalhando no jornal Cruzeiro do Sul como repórter e envolvido com esportes de aventura, fiquei incumbido de fazer o acompanhamento jornalístico do caso.
A certa altura da cobertura, entrei em contato com o escalador Fernando Augusto Vieira. Ele que acompanhava o sorocabano na tentativa de chegar ao ponto mais alto das Américas.
Liguei para a casa do escalador no Rio de Janeiro, me apresentei e o que encontrei do outro lado do telefone foi um rapaz emputecido, vociferando contra jornalistas. Disse que não daria entrevista, que já haviam distorcido suas palavras, que jornalista era isto e aquilo. Eu, do lado de cá, na redação do jornal, em Sorocaba, tinha acabado de arranjar mais um problema: precisava conseguir a matéria, mas, antes, teria de convencer o Fernando a me dar a entrevista.
Bom, resumindo, o fato é que fiz um acordo com o Fernando. Pedi a ele que me escrevesse uma carta, com o seu ponto de vista de todo o ocorrido e que me enviasse por fax. É, naquele tempo, as coisas funcionavam ainda pelo fax na redação. Nada de e-mail. Por telefone, garanti ao Fernando que iria negociar com o meu editor a publicação da íntegra daquela carta e prometi que, caso tentassem mexer no conteúdo, eu mesmo rasgaria o fax e deixaria a matéria pra lá.
O escalador topou. Me deu um voto de confiança. Algumas horas depois, recebi sua imensa carta pelo fax da redação. A matéria foi publicada. Um furo de reportagem na imprensa local e com um conteúdo exclusivo. (a matéria pode ser lida clicando na imagem abaixo) (clique com o botão da direita e mande abrir a imagem em outra guia. Então, abrirá uma lupa e será possível ampliar a página e ler toda reportagem)
Mas depois de contar essa novela, você deve estar perguntando: mas onde está a coincidência? Afinal, este post é sobre coincidência, não é? Pois bem. Eu precisava contar essa história para contar outra história e, então, a coincidência.
Em agosto de 2000, fiz parte da expedição Atahualpa 2000, da ONG italiana Akakor. Fomos à Bolívia para mergulhar no Lago Titicaca em busca de material arqueológico. Ao final da expedição, depois de uns 13 dias mergulhando, voltamos à cidade de La Paz, onde ficamos alguns poucos dias. Para quem não conhece, La Paz tem algumas ladeiras onde o comércio se concentra. E eu estava numa delas, já cansado fisicamente da expedição e querendo voltar para o Brasil.
De repente, ouço algumas pessoas falando português. Depois de tanta comunicação em italiano e espanhol, tive aquela sensação de "é de casa, é do Brasil". Me virei e fui conversar com os três brasileiros. E vocês sabem como é: brasileiro quando encontra brasileiro no exterior, faz festa.
E, então, nas apresentações, se deu mais ou menos o seguinte diálogo:
Eu: Vocês são de onde?
Eles: "Do Rio."
Eu: Ah, legal, eu sou de Sorocaba, interior de São Paulo.
Um deles: "Eu conheço um jornalista de Sorocaba, o Marcelo".
Eu: Marcelo? Eu sou jornalista e não conheço nenhum Marcelo. Quem será?
Ele: "Ele me entrevistou quando aconteceu um problema com um escalador de Sorocaba no Aconcágua."
E eu, assustado: "Você é o Fernando?"
Demos um abraço, relembramos a história da entrevista e fizemos essa foto abaixo pra registrar aquela feliz coincidência. (O Fernando é o de azul, o segundo na foto, da esquerda para direita).
quinta-feira, julho 04, 2013
Impeachment via voto
Postado por
Marcel
Estão tratando a retirada do presidente egípcio como golpe. Para mim, golpe é eleger alguém para te representar e esse dirigente eleito - quando sentado na cadeira do poder - representar somente aqueles que pensam como ele (como os partidários ou, no caso do Egito, os de mesma religião). Isso sim é golpe.
Para evitar esse tipo de acusação de que o povo é "golpista", sou favorável ao processo de impeachment via urnas. Aproveitando as eleições existentes a cada dois anos, os eleitores deveriam ter o direito de votar se o governante do Poder Executivo - eleito dois anos antes - (prefeito, governador e presidente) está trabalhando direito e se merece continuar ou não no cargo.
Pare agora e pense: porque para eleger alguém o seu voto tem valor e para "deseleger", não? Para deseleger, atualmente, você é representado por políticos que votariam um impeachment.
Você não deveria votar para "deseleger" também?
Você não deveria votar para "deseleger" também?
Simples: se o governante não agrada a maioria, basta que essa maioria declare isso na urna eletrônica e, então, o governante sai. Isso não é golpe, é democracia. É a vontade da maioria sendo exercida.
Já pensou qual é a razão que te chamam para eleger alguém e deixam o processo de impeachment na mão só dos políticos? Justamente para que eles - os políticos - passem a maior parte do mandato sem se preocupar em te representar.
São 3 anos pensando no partido e 1 ano (o último) pensando no que fazer na cidade (qual obra ou maquiagem eleitoral) para conseguir novamente o seu voto para continuar no poder.
Daí, o povo sai às ruas para reclamar uma melhor representatividade e eles tratam isso como "golpe". Ah, tá...
São 3 anos pensando no partido e 1 ano (o último) pensando no que fazer na cidade (qual obra ou maquiagem eleitoral) para conseguir novamente o seu voto para continuar no poder.
Daí, o povo sai às ruas para reclamar uma melhor representatividade e eles tratam isso como "golpe". Ah, tá...
sexta-feira, abril 19, 2013
Horário diferente para aposentado
Postado por
Marcel
Exemplos encontrados no sistema de transporte de outros países nem sempre se adaptam à realidade de outras cidades, mas existem coisas mundo afora que podem muito bem ser colocadas em prática por aqui, no sistema de transporte sorocabano. O sistema de transporte em Santigado, no Chile, tem coisas que podem ser seguidas por aqui e que ajudariam muito.
Como aqui, lá, o usuário aposentado não paga passagem (corrigindo: lá, no Metrô, o aposentado paga meia passagem, assim como o estudante). Mas, nas horas de rush, ele paga sim a tarifa cheia.
O pensamento é o seguinte: entende-se que o aposentado não trabalha mais, logo, pode fazer suas tarefas em outros horários, diferentes do horário mais conturbado nos terminais rodoviários/metroviários.
Daí a medida: aposentado não paga, desde que use o serviço em outros horários. Mas, se usar no horário de maior movimento, irá pagar a tarifa como outro usuário qualquer.
Sabe o que é isso? É política pública pra tornar o transporte público viável. E Sorocaba poderia muito bem adotar tal medida.
Além disso, Sorocaba poderia adotar a tarifa diferenciada no transporte coletivo, variando conforme o horário de uso. Mas isso eu já sugeri aqui (basta clicar para ler)
Ar Condicionado
Outra prática que poderia ser aplicada aos ônibus em Sorocaba é o ar condicionado. Algumas linhas do Rio de Janeiro têm ônibus com ar condicionado. Vejo que a Urbes estimularia o uso do transporte coletivo ao implantar ar condicionado nos ônibus. Sorocaba é uma cidade quente em boa parte do ano. Usar ônibus nos dias de calor é um martírio. Ao meio dia, então, piorou. Com calça e camiseta já se passa calor, imagine para quem tem de usar terno. Fora de cogitação. Se o ônibus tivesse ar condicionado, esse problema seria eliminado.
terça-feira, julho 03, 2012
O fim do “furo” e do “fechamento”
Postado por
Marcel
A cultura do “fechamento” está com os dias contados no jornalismo. A rotina já acabou porque as novas tecnologias já impuseram o ciclo 24 horas sete dias da semana na produção de notícias. Mas um hábito entranhado há décadas morre mais lentamente. Esta é a razão para problemas como o ocorrido esta semana nos Estados Unidos, a propósito de uma decisão judicial sobre um tema complexo.
O veredito da Suprema Corte provocou interpretações divergentes entre jornais, redes de TV, sites de notícias e noticiários radiofônicos. Mas a polêmica que interessa é a que se estabeleceu entre os jornalistas sobre qual a forma correta de lidar com uma situação como esta. Pela primeira vez em muitos anos, em vez de recriminações mútuas os profissionais trataram de achar a solução.
O caso da decisão judicial americana mostra como a pressa em ser o primeiro entra em conflito com a necessidade de informar corretamente. A conclusão geral foi de que a pressa deve ser sacrificada, o que significa uma virtual sentença de morte para a cultura do “furo” jornalístico. Mas a preocupação em ser o primeiro não é a única vítima nessa mudança de hábitos, rotinas e valores nas redações e fora delas.
A necessidade de imprimir notícias levou os jornais a parar a produção de informações num momento determinado, que ficou conhecido como hora do fechamento, ou deadline. É a hora fatal para o profissional, pois ela determina se ele foi o não bem sucedido na sua missão de obter tudo aquilo que o leitor precisa saber.
As novas tecnologias de comunicação e informação (TICs) acabaram também com essa tradição jornalística ao permitir que as notícias possam ser publicadas na web sem hora de fechamento. Isso não significou apenas o fim de uma rotina, mas também uma mudança no conceito de notícia. Ela deixou de ser algo com prazo de validade para se transformar num processo, já que a internet permite atualizações e reformulações a qualquer momento.
Isso muda bastante a rotina das redações, mas também a dos leitores. Para os jornalistas, a mudança afeta a forma como tratam a informação, especialmente as mais complexas e especializadas. Em vez da obsessão com o furo e com o fechamento, os profissionais passam a se preocupar com o processo de produção da informação.
Em vez de entregar um pacote informativo fechado em prazos determinados, os jornalistas passam a produzir uma sucessão de detalhes, novos enfoques, percepções e contextos de forma cumulativa, num processo que pode implicar em correções e recuos. O erro, quando reconhecido e corrigido, deixa de ser um pecado mortal para ser um acidente normal de percurso investigativo.
No lado do leitor, ele terá que, gradualmente, passar a encarar a notícia como um processo de descoberta da realidade e formação de conhecimento individual. Isso fará com que ele tenha que substituir a postura passiva atual por outra proativa, já que ele não receberá mais um produto acabado, mas algo em permanente construção.
Essas mudanças estão sendo estimuladas pela avalancha informativa deflagrada pela internet e pela web, responsáveis diretas pela maior percepção da complexidade das informações transmitidas aos leitores. A complexidade sempre existiu, mas nós não tínhamos condições de percebê-la porque os dados disponíveis era poucos. Como hoje o número de versões e percepções cresceu exponencialmente, os leitores passaram a ter um trabalho extra de selecionar e interpretar noticias, em vez de digeri-las sem reflexão.
Por Carlos Castilho em 30/06/2012 no site Observatório da Imprensa
O veredito da Suprema Corte provocou interpretações divergentes entre jornais, redes de TV, sites de notícias e noticiários radiofônicos. Mas a polêmica que interessa é a que se estabeleceu entre os jornalistas sobre qual a forma correta de lidar com uma situação como esta. Pela primeira vez em muitos anos, em vez de recriminações mútuas os profissionais trataram de achar a solução.
O caso da decisão judicial americana mostra como a pressa em ser o primeiro entra em conflito com a necessidade de informar corretamente. A conclusão geral foi de que a pressa deve ser sacrificada, o que significa uma virtual sentença de morte para a cultura do “furo” jornalístico. Mas a preocupação em ser o primeiro não é a única vítima nessa mudança de hábitos, rotinas e valores nas redações e fora delas.
A necessidade de imprimir notícias levou os jornais a parar a produção de informações num momento determinado, que ficou conhecido como hora do fechamento, ou deadline. É a hora fatal para o profissional, pois ela determina se ele foi o não bem sucedido na sua missão de obter tudo aquilo que o leitor precisa saber.
As novas tecnologias de comunicação e informação (TICs) acabaram também com essa tradição jornalística ao permitir que as notícias possam ser publicadas na web sem hora de fechamento. Isso não significou apenas o fim de uma rotina, mas também uma mudança no conceito de notícia. Ela deixou de ser algo com prazo de validade para se transformar num processo, já que a internet permite atualizações e reformulações a qualquer momento.
Isso muda bastante a rotina das redações, mas também a dos leitores. Para os jornalistas, a mudança afeta a forma como tratam a informação, especialmente as mais complexas e especializadas. Em vez da obsessão com o furo e com o fechamento, os profissionais passam a se preocupar com o processo de produção da informação.
Em vez de entregar um pacote informativo fechado em prazos determinados, os jornalistas passam a produzir uma sucessão de detalhes, novos enfoques, percepções e contextos de forma cumulativa, num processo que pode implicar em correções e recuos. O erro, quando reconhecido e corrigido, deixa de ser um pecado mortal para ser um acidente normal de percurso investigativo.
No lado do leitor, ele terá que, gradualmente, passar a encarar a notícia como um processo de descoberta da realidade e formação de conhecimento individual. Isso fará com que ele tenha que substituir a postura passiva atual por outra proativa, já que ele não receberá mais um produto acabado, mas algo em permanente construção.
Essas mudanças estão sendo estimuladas pela avalancha informativa deflagrada pela internet e pela web, responsáveis diretas pela maior percepção da complexidade das informações transmitidas aos leitores. A complexidade sempre existiu, mas nós não tínhamos condições de percebê-la porque os dados disponíveis era poucos. Como hoje o número de versões e percepções cresceu exponencialmente, os leitores passaram a ter um trabalho extra de selecionar e interpretar noticias, em vez de digeri-las sem reflexão.
Por Carlos Castilho em 30/06/2012 no site Observatório da Imprensa
sábado, junho 09, 2012
Pontes para dias mágicos
Postado por
Marcel
Muita gente coleciona de tudo. Latas de cerveja, maço de cigarro, selo. Tudo é possível de ser colecionado. Eu também gosto de colecionar: palhetas. Sabe aquele pedacinho de plástico usado pelos músicos para tocar guitarra, baixo? Pois é, eu coleciono.
Quem não é do ramo, pode achar que elas são todas iguais. Não, não são. Os formatos são distintos, as grossuras, os modelos, os materiais. Tudo pode variar em uma palheta.
Minha decisão de colecionar palheta não foi paixão. Aliás, não sei se posso chamar meu conjunto de palhetas de coleção. Assim seria se eu tivesse aos milhares e de diversos formatos. Não, não as tenho. Tenho algumas poucas, mas todas especiais.
Minha "coleção" pode ser chamada de lembranças. Sim, é isso. Elas começaram assim e continuam sendo lembranças. Todas as que tenho me remetem a uma data. Normalmente a um show. Normalmente de rock e pesado.
Dessas lembranças, impossível esquecer a primeira. Acredito que todo colecionador deve se lembrar daquele item que deu gênese à coleção. Comigo não é diferente. Em 199.... e poucos, fui ao show do Sepultura no Olympia, em São Paulo. Não tive dificuldade em chegar à frente do palco. Nunca tenho. Guitarra vai, barulho vem, pedi a palheta para o ex-vocalista Max Cavalera. Ele me olhou no olho e com a cabeça fez que sim. No meio da porradaria, pode parecer papo de louco, mas só compreende a possibilidade disso, quem está ali na frente do palco. O show rolou. A uma certa hora, ele veio com a mão trazendo a palheta. A mão fechada. A galera tentando pegar. Colocou na minha mão. Quando percebeu que não tinha chance de pegarem, ele soltou.
Ali começava meu álbum de lembranças e minha decisão de ir à frente dos shows para conseguir aqueles objetos que ajudam a dar som e velocidade à música e contribuem à minha memória não declarativa.
Em outro show também do Sepultura ganhei palheta do Andreas. A palheta vem escrito Enéas, ao invés de Andreas.
Em 1993, no show do Metallica, ou melhor, logo após o show, quando ainda estava no gramado do Parque Antártica, logo em frente ao palco, achei caída uma das palhetas que o Jason Newsted tinha jogado.
Dessa mesma forma, consegui a palheta do Marty Friedman, do Megadeth em outro show.
Bom, mas nem só com histórias simples é possível obter uma palheta. A com a história mais maluca que consegui foi a do guitarrista Zakk Wylde, quando ele tocou com o Ozzy Osbourne, aqui no Brasil, em 2008. Nesse show, graças a um amigo, fiquei no palco. Assisti todos ali do lado esquerdo do palco: Black Label Society, Korn... Mas antes do Ozzy entrar, todos tiveram que sair e fomos levados para a frente do palco, junto com os policiais e bombeiros.
Não sei ao certo, mas nesse show Zakk estava com um dedo sangrando. Pelo que já li, ele se cortou em um show ocorrido dias antes no Rio de Janeiro, ao pular na plateia e brigar com um fã que puxou a guitarra dele e não queria devolvê-la.
Conto esta história toda para dar sentido ao final da minha. No fim do show, Ozzy e Zakk Wilde deixaram o palco. Com credenciamento especial, corri de volta ao palco, para obter uma daquelas palhetas que ficam presas aos microfones. Quando pisei no palco, havia poças de sangue pelo palco e, no meio de uma delas, uma palheta boiava.
Não pensei duas vezes, meti a mão e peguei a dita cuja pelas bordas. Arranjei um saquinho plástico desses que recobrem maço de cigarro e joguei ali. Antes de deixar o palco, peguei mais duas palhetas com o roadie que desmontava os microfones. Duas delas foram dadas a um amigo e a um irmão. A outra continua no saquinho, ensanguentada e com uma marca de digital: minha ou dele.
Não sei até quando guardarei essas relíquias que tenho. Já pensei em vender no Ebay. Não tenho coragem. Provavelmente, darei a um filho, neto, ou a algum jovem maravilhado e encantado pelo mundo do rock. Até lá, elas serão pontes entre minha memória, minha juventude e os dias mágicos que vivi.
Quem não é do ramo, pode achar que elas são todas iguais. Não, não são. Os formatos são distintos, as grossuras, os modelos, os materiais. Tudo pode variar em uma palheta.
Minha decisão de colecionar palheta não foi paixão. Aliás, não sei se posso chamar meu conjunto de palhetas de coleção. Assim seria se eu tivesse aos milhares e de diversos formatos. Não, não as tenho. Tenho algumas poucas, mas todas especiais.
Minha "coleção" pode ser chamada de lembranças. Sim, é isso. Elas começaram assim e continuam sendo lembranças. Todas as que tenho me remetem a uma data. Normalmente a um show. Normalmente de rock e pesado.
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Palheta Sepultura |
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Palheta do Max - A primeira |
Em outro show também do Sepultura ganhei palheta do Andreas. A palheta vem escrito Enéas, ao invés de Andreas.
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Palheta do Andreas - Sepultura |
Em 1993, no show do Metallica, ou melhor, logo após o show, quando ainda estava no gramado do Parque Antártica, logo em frente ao palco, achei caída uma das palhetas que o Jason Newsted tinha jogado.
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Metallica |
Dessa mesma forma, consegui a palheta do Marty Friedman, do Megadeth em outro show.
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Megadeth |
Não sei ao certo, mas nesse show Zakk estava com um dedo sangrando. Pelo que já li, ele se cortou em um show ocorrido dias antes no Rio de Janeiro, ao pular na plateia e brigar com um fã que puxou a guitarra dele e não queria devolvê-la.
Conto esta história toda para dar sentido ao final da minha. No fim do show, Ozzy e Zakk Wilde deixaram o palco. Com credenciamento especial, corri de volta ao palco, para obter uma daquelas palhetas que ficam presas aos microfones. Quando pisei no palco, havia poças de sangue pelo palco e, no meio de uma delas, uma palheta boiava.
Não pensei duas vezes, meti a mão e peguei a dita cuja pelas bordas. Arranjei um saquinho plástico desses que recobrem maço de cigarro e joguei ali. Antes de deixar o palco, peguei mais duas palhetas com o roadie que desmontava os microfones. Duas delas foram dadas a um amigo e a um irmão. A outra continua no saquinho, ensanguentada e com uma marca de digital: minha ou dele.
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Zakk Wylde - Ozzy Osbourne |
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Zakk Wylde |
Não sei até quando guardarei essas relíquias que tenho. Já pensei em vender no Ebay. Não tenho coragem. Provavelmente, darei a um filho, neto, ou a algum jovem maravilhado e encantado pelo mundo do rock. Até lá, elas serão pontes entre minha memória, minha juventude e os dias mágicos que vivi.
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Nação Sepultura |
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