Com uma obra calcada em documentos oficiais - uma característica do trabalho de Luis Mir - ele diz, inclusive, que toda a mídia da época foi enganada, pois os boletins médicos apresentados à imprensa não batiam com os prontuários médicos. O livro deve colocar os pingos nos "is" neste caso tão falado da história brasileira. A dúvida que ficou sobre a história da morte de Tancredo naquela época pode ser vista atualmente pelo que está registrado no Wikipedia sobre o ex-presidente (conforme acesso no dia 16 de agosto de 2010):
"Tancredo de Almeida Neves (São João del-Rei, 4 de março de 1910 — São Paulo, 21 de abril de 1985) foi um advogado, empresário e político brasileiro.
Em 15 de janeiro de 1985 foi eleito presidente do Brasil pelo voto indireto de um colégio eleitoral, mas adoeceu gravemente, em 14 de março de 1985, véspera da posse, morrendo 39 dias depois, sem ter sido oficialmente empossado. Tancredo foi vítima de diverticulite, porém para alguns, causa da sua morte até hoje não foi devidamente esclarecida, existindo suspeitas de que tenha sido envenenado por setores radicais das Forças Armadas, que não admitiam a redemocratização. [1]."
O Observatório da Imprensa fez uma matéria sobre o livro, que reproduzo abaixo. Não vejo a hora de poder ler mais essa obra dele.
A dignidade que todo paciente merece
Por Simone Silva Jardim em 10/8/2010
O historiador e pesquisador médico Luis Mir, ganhador do Prêmio Jabuti com a obra Genômica (2005), acaba de lançar o livro O Paciente – O caso Tancredo Neves (Editora de Cultura). Professor visitante da Faculdade de Medicina da USP, Mir reúne nesse novo trabalho farta prova documental para desnudar, e também pôr um ponto final, num episódio dramático que mudou radicalmente a transição democrática no Brasil: a morte do presidente Tancredo Neves na noite de 21 de abril de 1985, aos 75 anos de idade.
Mir reconstituiu minuciosamente o itinerário médico deste caso, com início desastroso em Brasília e desfecho dramático em São Paulo. Para isso, realizou entrevistas com os profissionais diretamente responsáveis pelo atendimento ao presidente, confrontando não as versões em torno do caso, mas as anotações feitas por eles mesmos no prontuário do ilustre paciente. "Essa documentação pertence ao país, sua validade corporativa expirou no falecimento do paciente. Como historiador, afirmo que a história médica de Tancredo Neves é parte indissociável de sua história política."
Baseado nas provas que reuniu, Mir faz uma revelação ao mesmo tempo chocante e definitiva:
"Tudo o que aconteceu clinica e cirurgicamente no Instituto do Coração para o paciente Tancredo Neves não alterou um centésimo seu estado critico – morreu cirurgica e hemorragicamente em Brasília e foi enterrado clinicamente em São Paulo."