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terça-feira, agosto 17, 2010

O Paciente - O caso Tancredo Neves

Um dos melhores trabalhos de documentação que já li foi concentrado no livro "Guerra Civil - Estado e Trauma", escrito pelo historiador e médico Luis Mir. Escrevi um pouco sobre isso neste post em 2006. Agora, Luis Mir lança outro livro, O Paciente - o Caso Tancredo Neves, onde descortina os problemas ocorridos no diagnóstico e tratamento do ex-presidente.

Com uma obra calcada em documentos oficiais - uma característica do trabalho de Luis Mir - ele diz, inclusive, que toda a mídia da época foi enganada, pois os boletins médicos apresentados à imprensa não batiam com os prontuários médicos. O livro deve colocar os pingos nos "is" neste caso tão falado da história brasileira. A dúvida que ficou sobre a história da morte de Tancredo naquela época pode ser vista atualmente pelo que está registrado no Wikipedia sobre o ex-presidente (conforme acesso no dia 16 de agosto de 2010):


Em 15 de janeiro de 1985 foi eleito presidente do Brasil pelo voto indireto de um colégio eleitoral, mas adoeceu gravemente, em 14 de março de 1985, véspera da posse, morrendo 39 dias depois, sem ter sido oficialmente empossado. Tancredo foi vítima de diverticulite, porém para alguns, causa da sua morte até hoje não foi devidamente esclarecida, existindo suspeitas de que tenha sido envenenado por setores radicais das Forças Armadas, que não admitiam a redemocratização. [1]."


O Observatório da Imprensa fez  uma matéria sobre o livro, que reproduzo abaixo. Não vejo a hora de poder ler mais essa obra dele.

A dignidade que todo paciente merece
Por Simone Silva Jardim em 10/8/2010

O historiador e pesquisador médico Luis Mir, ganhador do Prêmio Jabuti com a obra Genômica (2005), acaba de lançar o livro O Paciente – O caso Tancredo Neves (Editora de Cultura). Professor visitante da Faculdade de Medicina da USP, Mir reúne nesse novo trabalho farta prova documental para desnudar, e também pôr um ponto final, num episódio dramático que mudou radicalmente a transição democrática no Brasil: a morte do presidente Tancredo Neves na noite de 21 de abril de 1985, aos 75 anos de idade.

Mir reconstituiu minuciosamente o itinerário médico deste caso, com início desastroso em Brasília e desfecho dramático em São Paulo. Para isso, realizou entrevistas com os profissionais diretamente responsáveis pelo atendimento ao presidente, confrontando não as versões em torno do caso, mas as anotações feitas por eles mesmos no prontuário do ilustre paciente. "Essa documentação pertence ao país, sua validade corporativa expirou no falecimento do paciente. Como historiador, afirmo que a história médica de Tancredo Neves é parte indissociável de sua história política."

Baseado nas provas que reuniu, Mir faz uma revelação ao mesmo tempo chocante e definitiva:

"Tudo o que aconteceu clinica e cirurgicamente no Instituto do Coração para o paciente Tancredo Neves não alterou um centésimo seu estado critico – morreu cirurgica e hemorragicamente em Brasília e foi enterrado clinicamente em São Paulo."

sexta-feira, março 20, 2009

O custo do não preparo


O Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) vem fazendo a transcrição de todas as entrevistas realizadas pelo Programa Roda Viva, da TV Cultura. O Roda Viva é um dos mais antigos e, ainda hoje, um dos principais programas de entrevista jornalística da TV brasileira.
Os que se interessarem, basta clicar aqui

Sou um fã do Roda Viva. Faz um tempo que não consigo assistir devido ao meu horário de trabalho, mas um programa que achei o top dos tops foi o com o historiador Luis Mir.
Entrevistado sobre o seu então recém-lançado livro 'Guerra Civil' - já comentado aqui no blog (veja aqui) - Luis Mir deu um banho nos entrevistadores.
A cada resposta um se calava. Organizador de um arsenal de informações de várias áreas e diversas fontes, Mir simplesmente arrasou.

Na minha humilde opinião, esse programa mostrou como o jornalista vai para a entrevista sem preparo. O incrível é que jornalistas 'renomados' como Renato Lombardi e Nely Caxeta se apoiaram em senso-comuns para entrevistá-lo. O que se viu, não poderia ser diferente: um massacre, sem qualquer trocadilho ao livro de Mir.
O que eu vi, foi um Renato Lombardi olhando só para seu próprio umbigo e querendo contar quem ele entrevistou na favela para tentar combater os dados históricos levantados pelo entrevistado. Por sua vez, Nely Caxeta se comportou e questionou com argumentos usados por dondocas da alta classe burra (e não a inteligente).

Mir foi derrubando um a um. Vale a pena ler ou assistir esse Roda Viva. É uma aula de Brasil. Destaco também o debate inteligente travado entre Luis Mir e sociólogo Sérgio Adorno e o jornalista Gilberto Nascimento, que se diferenciaram e mostraram como se faz um bom debate e uma discussão de qualidade.

quinta-feira, março 09, 2006

Triste realidade

Capa do Livro

Ter consciência das coisas por vezes é sofrível. Explico. Já diz aquela frase que quanto mais a gente sabe, mais a gente sabe que não sabe. Sobre alguns assuntos queria não saber! Não saber por exemplo que vivemos em uma sociedade discriminadora. cerca de 50% da população é negra (de maneira geral) mas os negros só ocupam, em sua maioria, baixos cargos e salários. Negro é sinônimo de bandido no Brasil. Pecamos pela omissão. Não cobramos ações efetivas do Poder Público para mudar essa realidade. Nossa Constituição prevê que somos todos iguais perante a lei. Mentira! O pobre e negro é o que mais sofre com a Lei. Aos amigos, a lei, aos inimigos o rigor da lei.


A foto ao lado mostra o Luis Mir

Essa minha crise já vem se estendendo há tempos... desde que comecei a ler o livro Guerra Civil, do historiador Luis Mir. Todo cidadão brasileiro deveria ter acesso a esse livro. Ele mostra - de maneira explendorosa - com dados oficiais do IBGE, Justiça, Secretaria de Segurança Pública, Ministério da Saúde, entre outros dados compilados, que a política de policiamento no Brasil é uma política pública de extermínio de negros e grupos segregados. Historicamente vem sendo feito isso e só não vê quem não quer. Os dados confirmam isso! Lamentável, triste, horripilante.


Foto ao lado - PM do Rio executa favelado no Morro da Providência

(reprodução interna do livro, foto de Carlos Moraes/jornal O Dia)

Alguns dados que constam no livro:

- O atendimento às vítimas da violência consome cerca de 21 bilhões de reais por ano
Esse valor equivale a 40% dos gastos totais com a saúde, que somam aproximadamente 52 bilhões de reais por ano
- Aproximadamente 150 mil pessoas morrem violentamente no Brasil a cada ano
- Dessas mortes, 55.680 são assassinatos
- Com 3% da população mundial, o Brasil registra 13% de todos os homicídios do mundo
- Na cidade de São Paulo, se gasta cerca de 3% de seu Produto Interno Bruto (o equivalente a 9,3 bilhões de reais, segundo dados de 1999) no combate à criminalidade
- O 1% mais rico da população concentra quase o mesmo volume de rendimentos do que os 50% mais pobres.
- Na região metropolitana de São Paulo, 52,9% dos afro-brasileiros são pobres
- Mais de 50% dos presos brasileiros são afro-brasileiros ou mestiços
- Mais de 85% dos crimes praticados no Brasil são contra o patrimônio, como furtos e roubos