sexta-feira, abril 30, 2010

A curiosa retórica neocon tupiniquim

Retirado do Blog do Nassif - www.luisnassif.com.br

É curiosa a maneira como se desenvolveu a retórica neocon na Internet. Não se trata de nenhuma construção sofisticada, de sofismas engenhosos. É muito mais um conjunto de recursos presentes em brigas de valentões de bar ou bate-bocas de vizinhos, uma espécie de versão para adultos da fábula do lobo e da ovelha.

O ponto central é embaralhar a gravidade dos fatos, montar uma argumentação que transforme em fatos graves qualquer atitude banal do adversário e em fato banal qualquer atitude grave da sua parte. Quando houver reação à ofensa grave cometida, chame a vítima de "chorão", de dodói ou coisas do gênero.

O Eduardo Graeff é um bom estudo de caso porque passou a assimilar essa retórica não tendo historicamente praticado o cinismo na sua vida intelectual. Então entra no jogo como o almofadinha intelectual que resolve dançar rumba.

Dia desses fui ao cinema com as menininhas, no Shopping Metrô Santa Cruz. Bati boca com um sujeito que furou a fila. Suas respostas despertaram minha atenção para esse jogo de sofismas de barraco. O bate-boca foi muito instrutivo, porque o sujeito assimilou essa retórica de boteco provavelmente de alguns blogs de esgoto.

Acompanhe:

Estávamos na fila da pipoca quando o marmanjo passou à frente, intimidou a mocinha que servia e exigiu que fosse servido primeiro. Chamei sua atenção, de que estava furando a fila. O nível de seus argumentos me trouxe à lembrança imediatamente esse tipo de sofisma que campeia nesse mundo neocon. É  tema muito interessante para linguistas ou estudiosos dessas retóricas vulgares. Confira:

- Você está furando a fila.
- Vou furar mesmo. Minha compra é muito menor do que a sua.
- Não importa. Você está furando a fila.
- Não me venha com essas lições de moral politicamente corretas. Só porque você acha que está certo se dá o direito de me criticar por uma ninharia.
- Prezado, não inverta a lógica: você está errado em furar a fila.
- E você acha certo bater boca com estranhos na frente das suas filhas por uma coisa de nada?
- O que não é certo é furar a fila. Ensinei a elas que não se deve furar fila e quem fura fila se sujeita a levar chamadas de estranhos.
- Você não tem vergonha de discutir comigo na frente de suas filhas?
- Você não tem vergonha de furar a fila e levar pito de terceiros?
- Não me diga que você nunca furou filas?
- Não, senhor, e ensino minhas filhas que é feio furar filas.

É exasperante esse tipo de retórica.

Outra versão é do sujeito que, por exemplo, chuta uma velhinha. Você chama sua atenção, que absurdo chutar a velhinha. E ele se vira e diz: o que é que tem chutar velhinha, para de fazer drama.

Obviamente o exemplo acima é uma caricatura, mas serve para ilustrar essa loucura que se tornou padrão na Internet.

Por exemplo, passei a sofrer ataques difamatórios no Twitter. Identifiquei os mais agressivos e dei visibilidade aqui. Um deles me acusou de estar perseguindo-os. Outro disse que tremia de medo de sofrer um atentado. Um terceiro me acusou de chorão.

Esse tipo de lógica de botequim foi aplicada pelo Mainardi no auge do jornalismo de esgoto. Quando Paulo Henrique o processou, alegou que jornalista não processava jornalista e que o Paulo era fraco, por não aguentar pancada.

Quando montei minha série sobre a Veja, foi correndo esconder-se atrás dos advogados da Abril para me processar – com a Abril bancando as custas. Seria interessante nossos especialistas discorrerem e sistematizarem esse tipo de jogo retórico.

4 comentários:

  1. Caro professor,

    há muito que percebo essa sua particular tendência em dar crédito ao jornalista Luís Nassif, em detrimento de Diogo Mainardi e da Veja. Até aí tudo bem, visto que o Nassif tem razão em determinados aspectos relacionados à Veja.

    Todavia, creditar a Nassif uma idoneidade inabalável é uma atitude um tanto errônea. Luís Nassif está a serviço do "poder" tanto quanto Eduardo Graeff. Mas este não esconde a instituição que representa, diferente do Nassif... cujo passado, segundo relato de uma professora de economia próxima a mim, denota certa inescrupulosidade que prefiro não comentar aqui.

    Não caio nos discursos de Reinaldo Azevedo, Luís Nassif e Paulo Henrique Amorin, pois sei dos vinculos que os três tem com o poder político.

    Neste universo, dou muito mais crédito a este sujeito tão criticado por pessoas do nosso ofício: Diogo Mainardi.

    Há em Mainardi, assim como em Olavo de Carvalho, muito mais fervor ideológico que trabalho servil.

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  2. Caro Anderson,
    acho que falamos de coisas distintas. Defendo Nassif - e isso está escancarado em meu blog, logo à direita - por seu método jornalístico, não por seu apoio político a este ou àquele.

    Essa decisão de apoiar politicamente um ou outro é democrática e compete a cada um decidir. O seu olhar (Anderson) acerca de um e outro é político (o que é um direito seu) e o meu é técnico-jornalístico, daí a incompatibilidade e impossibilidade de comparar nossos "olhares".

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  3. Sim, é incrível. Este tipo de situaçao acontece pelo menos uma vez por semana. A prepotência é alarmante, principalmente qdo as pessoas q acompanham vc dps ainda dao bronca para vc, por ter apelado ao civismo de um bárbaro!

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  4. Markus, não sei como isso está acontecendo na Espanha. Mas no Brasil, esse tipo de atitude das pessoas está realmente disseminada. Situação parecida aconteceu em um Carnaval passado (acho que há três anos). Um jovem furou a fila e, quando chamei sua atenção, ele ainda me colocou o dedo em riste e passou a falar várias besteiras. Coisas desse tipo descritas no texto do Nassif. A situação só não terminou em briga, graças aos seguranças do clube que arrancaram o jovem da fila.

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