Retirado do Blog do Nassif - www.luisnassif.com.br
É curiosa a maneira como se desenvolveu a retórica neocon na Internet. Não se trata de nenhuma construção sofisticada, de sofismas engenhosos. É muito mais um conjunto de recursos presentes em brigas de valentões de bar ou bate-bocas de vizinhos, uma espécie de versão para adultos da fábula do lobo e da ovelha.
O ponto central é embaralhar a gravidade dos fatos, montar uma argumentação que transforme em fatos graves qualquer atitude banal do adversário e em fato banal qualquer atitude grave da sua parte. Quando houver reação à ofensa grave cometida, chame a vítima de "chorão", de dodói ou coisas do gênero.
O Eduardo Graeff é um bom estudo de caso porque passou a assimilar essa retórica não tendo historicamente praticado o cinismo na sua vida intelectual. Então entra no jogo como o almofadinha intelectual que resolve dançar rumba.
Dia desses fui ao cinema com as menininhas, no Shopping Metrô Santa Cruz. Bati boca com um sujeito que furou a fila. Suas respostas despertaram minha atenção para esse jogo de sofismas de barraco. O bate-boca foi muito instrutivo, porque o sujeito assimilou essa retórica de boteco provavelmente de alguns blogs de esgoto.
Acompanhe:
Estávamos na fila da pipoca quando o marmanjo passou à frente, intimidou a mocinha que servia e exigiu que fosse servido primeiro. Chamei sua atenção, de que estava furando a fila. O nível de seus argumentos me trouxe à lembrança imediatamente esse tipo de sofisma que campeia nesse mundo neocon. É tema muito interessante para linguistas ou estudiosos dessas retóricas vulgares. Confira:
- Você está furando a fila.
- Vou furar mesmo. Minha compra é muito menor do que a sua.
- Não importa. Você está furando a fila.
- Não me venha com essas lições de moral politicamente corretas. Só porque você acha que está certo se dá o direito de me criticar por uma ninharia.
- Prezado, não inverta a lógica: você está errado em furar a fila.
- E você acha certo bater boca com estranhos na frente das suas filhas por uma coisa de nada?
- O que não é certo é furar a fila. Ensinei a elas que não se deve furar fila e quem fura fila se sujeita a levar chamadas de estranhos.
- Você não tem vergonha de discutir comigo na frente de suas filhas?
- Você não tem vergonha de furar a fila e levar pito de terceiros?
- Não me diga que você nunca furou filas?
- Não, senhor, e ensino minhas filhas que é feio furar filas.
É exasperante esse tipo de retórica.
Outra versão é do sujeito que, por exemplo, chuta uma velhinha. Você chama sua atenção, que absurdo chutar a velhinha. E ele se vira e diz: o que é que tem chutar velhinha, para de fazer drama.
Obviamente o exemplo acima é uma caricatura, mas serve para ilustrar essa loucura que se tornou padrão na Internet.
Por exemplo, passei a sofrer ataques difamatórios no Twitter. Identifiquei os mais agressivos e dei visibilidade aqui. Um deles me acusou de estar perseguindo-os. Outro disse que tremia de medo de sofrer um atentado. Um terceiro me acusou de chorão.
Esse tipo de lógica de botequim foi aplicada pelo Mainardi no auge do jornalismo de esgoto. Quando Paulo Henrique o processou, alegou que jornalista não processava jornalista e que o Paulo era fraco, por não aguentar pancada.
Quando montei minha série sobre a Veja, foi correndo esconder-se atrás dos advogados da Abril para me processar – com a Abril bancando as custas. Seria interessante nossos especialistas discorrerem e sistematizarem esse tipo de jogo retórico.
sexta-feira, abril 30, 2010
quarta-feira, abril 28, 2010
Revista Luz
Postado por
Marcel
O Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor) da Unicamp está produzindo a revista eletrônica Luz, numa parceria com a CPFL Piratininga, que tem participação da minha amiga Patricia Mariuzzo.
Pelo pouco que vi, já gostei.
Como diz o secretário de Ensino Superior, professor Carlos Vogt, na apresentação da revista: "Com a revista Luz, o que se pretende é consolidar essas reflexões, expandindo o debate e aprofundando o papel da CPFL de fomentadora do diálogo dos temas cruciais do século XXI. Como o próprio nome da revista sugere, a ideia é contribuir para iluminar pontos de enredamento e dispersão das questões culturais, filosóficas, científicas e sociológicas de nossa época, identificando tendências e particularidades deste momento histórico, por meio da abordagem de temas próprios do conhecimento e da dinâmica de suas transformações socioculturais". Fica aqui minha sugestão pela qualidade do material - http://lab10.moraga.com.br/
Pelo pouco que vi, já gostei.
Como diz o secretário de Ensino Superior, professor Carlos Vogt, na apresentação da revista: "Com a revista Luz, o que se pretende é consolidar essas reflexões, expandindo o debate e aprofundando o papel da CPFL de fomentadora do diálogo dos temas cruciais do século XXI. Como o próprio nome da revista sugere, a ideia é contribuir para iluminar pontos de enredamento e dispersão das questões culturais, filosóficas, científicas e sociológicas de nossa época, identificando tendências e particularidades deste momento histórico, por meio da abordagem de temas próprios do conhecimento e da dinâmica de suas transformações socioculturais". Fica aqui minha sugestão pela qualidade do material - http://lab10.moraga.com.br/
terça-feira, abril 27, 2010
domingo, abril 25, 2010
A solução para a crise na imprensa pode estar nas escolas de jornalismo
Postado por
Marcel
Postado por Carlos Castilho no Observatório da Imprensa
Dito assim, parece uma heresia, porque os cursos de graduação de jornalismo sempre foram caudatários da indústria dos jornais. Normalmente estavam, e em grande parte ainda continuam, prestigiando mais a parte teórica da comunicação, deixando para os empreendedores do jornalismo a solução dos problemas práticos da atividade.
Mas a internet está mudando radicalmente esta situação, como mostram algumas experiências acadêmicas como na Escola de Comunicação Pública da Universidade de Syracuse, e na Universidade Columbia, em Nova Iorque. Ambas tomaram a polêmica iniciativa de mudar completamente o currículo de graduação em jornalismo, ao introduzir uma série de disciplinas técnicas, quase todas na área das ciências da computação.
Como era de esperar, a mudança provocou uma forte reação entre alguns professores e entre os defensores dos currículos convencionais nas faculdades de jornalismo. Mas em compensação, foi aplaudida pela maioria dos chamados gurus da web e pesquisadores da comunicação online, preocupados com a falta de inovações na área do jornalismo na web.
O crítico da mídia norte-americana Ken Auletta publicou no fim do ano passado um livro no qual compara o fenômeno Google com a crise no jornalismo para afirmar que exploração de novos caminhos na área de comunicação passa obrigatoriamente pela computação e pela teoria geral dos sistemas. Para ele, os engenheiros que criaram o site de buscas Google fizeram mais pelo jornalismo da Web do que todas as faculdades dos Estados Unidos.
Auletta levou muita bordoada na academia por conta de uma afirmação tão audaz e tão vulnerável a críticas de merchandising em favor da empresa Google, mas acabou parcialmente redimido depois do anúncio da Columbia de que em 2011 começam a ser oferecidos cursos interdisciplinares de graduação, combinando eletrônica e jornalismo.
A interdisciplinaridade, por meio da qual várias disciplinas acadêmicas participam de um mesmo projeto, parece ser a chave para esta reforma radical no ensino do jornalismo, um fenômeno que começa a se esboçar com um atraso de no mínimo 10 anos. O mundo da comunicação online cresceu vertiginosamente, mais com base no empirismo e na criatividade individual do que na pesquisa e experimentação em universidades.
Aqui no Brasil, a Universidade Federal de Santa Catarina tem um programa na área de produção, gestão e disseminação do conhecimento que já se situa dentro da nova tendência em direção à interdisciplinaridade. O programa está dentro da área da engenharia e, paradoxalmente, é visto como um concorrente pela escola de jornalismo da mesma universidade, embora vários jornalistas façam pós-graduação com engenheiros e administradores do conhecimento.
A crise no modelo de negócios das empresas jornalísticas acabou com os financiamentos para pesquisas na área da comunicação. Sem apoio corporativo, a responsabilidade recai agora sobre as universidades, mas elas estão semi-paralisadas pelo corporativismo do corpo docente.
Pela primeira vez na história da imprensa, o segmento empresarial olha agora para a academia como a sua última grande esperança de escapar do beco sem saída em que se meteu depois que a web deu ao público a possibilidade de participar ativamente da produção e publicação de notícias.
O debate entre tecnicistas e teóricos no ensino do jornalismo não vai ser ameno, mas oferece uma possibilidade de evitar uma polarização que é ruim para os dois lados. O fato concreto é que os novos softwares e gadgets eletrônicos geram mudanças de comportamentos e de valores que precisam se vistas no contexto da social, pois é nele que elas adquirem valor.
A empresa Google, por exemplo, surgiu como um software gratuito para buscas na internet, mas é hoje a primeira megaempresa de mídia eletrônica da era digital. Em vez de ser vista como parceira, ela foi tratada como inimiga e concorrente da imprensa mundial, que está pagando um preço altíssimo por esta atitude.
Dito assim, parece uma heresia, porque os cursos de graduação de jornalismo sempre foram caudatários da indústria dos jornais. Normalmente estavam, e em grande parte ainda continuam, prestigiando mais a parte teórica da comunicação, deixando para os empreendedores do jornalismo a solução dos problemas práticos da atividade.
Mas a internet está mudando radicalmente esta situação, como mostram algumas experiências acadêmicas como na Escola de Comunicação Pública da Universidade de Syracuse, e na Universidade Columbia, em Nova Iorque. Ambas tomaram a polêmica iniciativa de mudar completamente o currículo de graduação em jornalismo, ao introduzir uma série de disciplinas técnicas, quase todas na área das ciências da computação.
Como era de esperar, a mudança provocou uma forte reação entre alguns professores e entre os defensores dos currículos convencionais nas faculdades de jornalismo. Mas em compensação, foi aplaudida pela maioria dos chamados gurus da web e pesquisadores da comunicação online, preocupados com a falta de inovações na área do jornalismo na web.
O crítico da mídia norte-americana Ken Auletta publicou no fim do ano passado um livro no qual compara o fenômeno Google com a crise no jornalismo para afirmar que exploração de novos caminhos na área de comunicação passa obrigatoriamente pela computação e pela teoria geral dos sistemas. Para ele, os engenheiros que criaram o site de buscas Google fizeram mais pelo jornalismo da Web do que todas as faculdades dos Estados Unidos.
Auletta levou muita bordoada na academia por conta de uma afirmação tão audaz e tão vulnerável a críticas de merchandising em favor da empresa Google, mas acabou parcialmente redimido depois do anúncio da Columbia de que em 2011 começam a ser oferecidos cursos interdisciplinares de graduação, combinando eletrônica e jornalismo.
A interdisciplinaridade, por meio da qual várias disciplinas acadêmicas participam de um mesmo projeto, parece ser a chave para esta reforma radical no ensino do jornalismo, um fenômeno que começa a se esboçar com um atraso de no mínimo 10 anos. O mundo da comunicação online cresceu vertiginosamente, mais com base no empirismo e na criatividade individual do que na pesquisa e experimentação em universidades.
Aqui no Brasil, a Universidade Federal de Santa Catarina tem um programa na área de produção, gestão e disseminação do conhecimento que já se situa dentro da nova tendência em direção à interdisciplinaridade. O programa está dentro da área da engenharia e, paradoxalmente, é visto como um concorrente pela escola de jornalismo da mesma universidade, embora vários jornalistas façam pós-graduação com engenheiros e administradores do conhecimento.
A crise no modelo de negócios das empresas jornalísticas acabou com os financiamentos para pesquisas na área da comunicação. Sem apoio corporativo, a responsabilidade recai agora sobre as universidades, mas elas estão semi-paralisadas pelo corporativismo do corpo docente.
Pela primeira vez na história da imprensa, o segmento empresarial olha agora para a academia como a sua última grande esperança de escapar do beco sem saída em que se meteu depois que a web deu ao público a possibilidade de participar ativamente da produção e publicação de notícias.
O debate entre tecnicistas e teóricos no ensino do jornalismo não vai ser ameno, mas oferece uma possibilidade de evitar uma polarização que é ruim para os dois lados. O fato concreto é que os novos softwares e gadgets eletrônicos geram mudanças de comportamentos e de valores que precisam se vistas no contexto da social, pois é nele que elas adquirem valor.
A empresa Google, por exemplo, surgiu como um software gratuito para buscas na internet, mas é hoje a primeira megaempresa de mídia eletrônica da era digital. Em vez de ser vista como parceira, ela foi tratada como inimiga e concorrente da imprensa mundial, que está pagando um preço altíssimo por esta atitude.
sábado, abril 24, 2010
Exército de Brancaleone
Postado por
Marcel
Esta é a minha homenagem ao heróico, porém, estúpido Exército de Brancaleone. Aqui, ele se dirigindo à sua imensa armada.
sexta-feira, abril 23, 2010
Mega-Sena acumulada paga R$ 7 milhões
Postado por
Marcel
A Mega-Sena está acumulada há dois concursos e pode pagar R$ 7 milhões ao apostador que acertar as seis dezenas do concurso 1173. Os sorteios das Loterias Caixa acontecem na cidade de Jaciara (MT), onde está
estacionado o Caminhão da Sorte, neste sábado (24), a partir das 20h.
Se o valor fosse aplicado na poupança o rendimento mensal seria de R$ 36 mil. Investido no ramo imobiliário, seria possível a compra de 35 apartamentos de classe média, avaliados em R$ 200 mil cada. A bolada
ainda seria suficiente para a aquisição de uma frota de 333 automóveis populares ou 1.400 motocicletas de 250cc. E você, o que você faria com esse dinheiro?
estacionado o Caminhão da Sorte, neste sábado (24), a partir das 20h.
Se o valor fosse aplicado na poupança o rendimento mensal seria de R$ 36 mil. Investido no ramo imobiliário, seria possível a compra de 35 apartamentos de classe média, avaliados em R$ 200 mil cada. A bolada
ainda seria suficiente para a aquisição de uma frota de 333 automóveis populares ou 1.400 motocicletas de 250cc. E você, o que você faria com esse dinheiro?
quinta-feira, abril 22, 2010
"Viva Brasília" e nada de outro lado
Postado por
Marcel
Ontem, Brasília completou 50 anos. Por onde passei, vi só matérias rasgando seda por Brasília. Mas, jornalisticamente, não vi a matéria fazendo o contraponto. Se por um lado, fez 50 anos que uma cidade foi planejada e se desenvolveu, por outro, ontem fez 50 anos que uma outra cidade foi deixada sem planejamento e resultou no que vemos hoje. Essa cidade é o Rio de Janeiro que dormiu Capital e acordou balneário.
Mais de 1 milhão de pessoas ficaram sem emprego e sem opção, pois o Estado não planejou essa transição. E o resultado disso é o que se vê hoje em dia no RJ no quesito criminalidade/formações de “Estados” paralelos.
O objetivo dessa matéria (que não foi feita) não é provocativa, mas só para mostrarmos às futuras gerações o que leva a falta de planejamento. Só para ter um paralelo, a reunificação das Alemanhas foi algo planejado e o prazo definido para acompanhamento e "gestão" dessa reunificação foi de 30 anos.
(Crédito da Foto: Marcelo Casal Jr/ABr)
Mais de 1 milhão de pessoas ficaram sem emprego e sem opção, pois o Estado não planejou essa transição. E o resultado disso é o que se vê hoje em dia no RJ no quesito criminalidade/formações de “Estados” paralelos.
O objetivo dessa matéria (que não foi feita) não é provocativa, mas só para mostrarmos às futuras gerações o que leva a falta de planejamento. Só para ter um paralelo, a reunificação das Alemanhas foi algo planejado e o prazo definido para acompanhamento e "gestão" dessa reunificação foi de 30 anos.
(Crédito da Foto: Marcelo Casal Jr/ABr)
Assinar:
Postagens (Atom)